AMAZONAS – Pela primeira vez em longa-metragem, e sem surpresa numa produção encomendada por comerciantes, “Amazonas, o Maior Rio do Mundo” documenta sobretudo a visão extrativista do Brasil sobre a região amazônica, dominante há um século como hoje.
O filme do renomado documentarista luso-brasileiro Silvino Santos (1886-1970) estava desaparecido a quase cem anos e agora está no acervo da Cinemateca Brasileira, marcando uma descoberta extraordinária nos arquivos fílmicos da República Tcheca, em Praga.
Ao lado do fascínio pela exuberância da natureza, a película apresenta a exploração antiecológica dos recursos naturais, a violência e o preconceito contra os povos originários (referidos explicitamente como “selvagens”), a truculência com animais (gado e cavalos, onças e peixes-boi).
É um filme de viagem sobre belezas naturais (o rio e seus afluentes, a fauna e a flora), uma produção sobre as atividades comerciais (a borracha, a castanha, a mandioca, o algodão, a cana-de-açúcar, a pesca, a pele de animais) e uma obra com pegada histórica e etnográfica (as inscrições rupestres em Itacoatiara, o pioneiro registro fílmico do povo).
Amazonas: como seca do rio Negro afetou a vida de moradores
A trajetória intrigante do filme, conhecido anteriormente como “The Wonders of the Amazon”, foi destacada em uma reportagem de 7 de outubro no “The Guardian” pela jornalista Constance Malleret.
A matéria enfatizou o trabalho do principal especialista brasileiro na obra de Santos, Sávio Stoco, professor da Universidade Federal do Pará, cuja tese de doutorado na ECA-USP enfocava em 2019 o período entre 1918 e 1922 da produção amazonense de Silvino Santos.
“Não tínhamos a menor esperança de que esta obra fosse algum dia encontrada”, reconheceu Stoco. “É basicamente um milagre”, ressaltou.