Pesquisadores apontam que peixes do Amazonas estão contaminados por mercúrio

Um quinto dos pescados vendidos nas feiras e mercados apresentam altos níveis de substância tóxica

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Manaus/AM – Uma nota técnica divulgada pela Fiocruz, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), a Greenpeace Brasil, o Iepé, o Instituto Socioambiental (ISA) e a WWF-Brasil revelou que 1/5 dos peixes consumidos no Amazonas apresentam uma quantidade de mercúrio superior ao preconizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em média 22,50%. Os peixes analisados, no período de março de 2021 a setembro de 2022, provinham de 17 municípios em seis estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima

“Nosso objetivo foi coletar peixes que são vendidos normalmente em feiras livres, em mercados municipais ou diretos das mãos de pescadores de modo a mostrar para a sociedade que o problema da contaminação do mercúrio não está restrito a povos indígenas ou a outros povos tradicionais”, afirmou Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz e um dos autores.

A quantidade de mercúrio recomendada pela Anvisa é de até  0,5μg (micrograma) por grama de tecido muscular. Entretanto as análises de todos os animais indicaram que 21% deles continham mais mercúrio do que o aceitável. Nos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e São Miguel da Cachoeira, a marca atingiu mais de 50% dos pescados.

Como a substância é lançada principalmente pelo garimpo, locais com maiores índices dessa atividade podem apresentar um número superior de peixes contaminados. Como é o caso de Roraima que sofre com a presença do garimpo em grande parte do território Yanomami.

Quando se olha para o índice de pescados com alta concentração de mercúrio, o estado lidera o ranking com 40% dos animais analisados contaminados com uma marca superior a que é indicado.

Entre os animais analisados, 110 eram peixes herbívoros, 130 detritívoros, 286 onívoros e 484 carnívoros. Os carnívoros, mais apreciados pelos consumidores finais, apresentaram níveis de contaminação 14 vezes maior que as espécies não-carnívoras.

Além disso, prevalências de contaminação por mercúrio foram aproximadamente quatro vezes maiores, em Roraima e no Acre; três vezes maior em Rondônia e no Amazonas; e duas vezes maior no Pará, quando comparadas às registadas no Amapá.

Confira o ranking dos estados com mais peixes contaminados por mercúrio:

  • Roraima: 40%
  • Acre: 35,90%
  • Rondônia: 26,10%
  • Amazonas: 22,50%
  • Pará: 15,80%
  • Amapá: 11,40%

Impactos à saúde

Normalmente, a contaminação por mercúrio causa sequelas no corpo a longo prazo. Quanto mais tempo de acúmulo da concentração daquela substância no corpo, maior o risco de danos. Os problemas que o mercúrio pode causar são variados, além de problemas de ordem motora como tremores e tonturas, há risco também de problemas cognitivos, como perda de memória e dificuldade de aprendizado. Adultos podem até desenvolver quadros semelhantes a Alzheimer.

“O problema é a exposição crônica e permanente. A depender da quantidade de peixe que você ingere, mesmo uma contaminação baixa pode representar alto risco, com o tempo. O mercúrio é um contaminante que não deveríamos consumir, mas ele só é excretado do corpo humano entre 90 e 120 dias. Então, se você consumir 100 gramas de peixe contaminado por dia, o risco a longo prazo é alto”,  explica Paulo Basta.

Considerando os estratos populacionais mais vulneráveis à contaminação, mulheres em idade fértil estariam ingerindo até 8 vezes mais mercúrio do que a dose preconizada, e crianças de 2 a 4 anos até 27 vezes mais do que o recomendado.

“As mulheres em idade fértil, público mais vulnerável aos efeitos do mercúrio, estariam ingerindo até nove vezes mais mercúrio do que a dose preconizada; enquanto crianças de 2 a 4 anos, até 31 vezes mais do que o aconselhado”, alertou a Fiocruz.

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