Rodrigo Tobias presta esclarecimentos sobre a compra de 28 ventiladores pulmonares pelo governo do Estado em uma loja de vinhos, por quase R$ 3 milhões
Manaus – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE), ouviu na manhã desta segunda-feira (29) o ex-secretário de Saúde do Amazonas, Rodrigo Tobias, para prestar esclarecimentos sobre a compra pelo governo do Estado de 28 ventiladores pulmonares em uma loja de vinhos, por quase R$ 3 milhões.
Tobias começou o depoimento falando que encontrou dificuldades quando foi titular da pasta, de 28 de março de 2019 a 7 de abril de 2020. Ele relatou que não tinha apoio do governo para exercer ações do combate a Covid-19. “Nossas ações não tinham apoio do governo. Em tudo a gente tinha que provar que estávamos fazendo uma boa ação, por isso coloquei o cargo à disposição”, disse o ex-secretário.
O deputado estadual Serafim Correa questionou se Tobias conhecia Carla Pollake, citada no depoimento de João Paulo Marques, na sexta-feira (19), como representante do governo do Estado que apresentou à secretária Simone Papaiz, no dia 8 de abril a diretoria da Susam. Papaiz assumiu a pasta oficialmente no dia 9 de abril. “Eu a conheço, mas não sei qual é a função dela. Ela era próxima ao governador e sempre estava nas reuniões com a comitiva do governo. Mas não sei dizer qual era o cargo dela”, disse Rodrigo Tobias.
O deputado Wilker Barreto questionou sobre o expediente da compra dos ventiladores, que no dia 8 de abril havia um espaço para a assinatura de Tobias: “Eu estive como secretário até o dia 7 de abril. Tudo posterior a isso não é da minha responsabilidade. O que eu posso falar é que eu não assinei a compra”, relatou o ex-secretário.
Tobias foi questionado se tinha conhecimento do processo de compras dos respiradores desde o início. “O processo é natural. O secretário tem conhecimento, mas tem que passar por todas as áreas técnicas. Eu sou cirurgião dentista, tenho que confiar na minha área técnica e aprovar ou não a compra. Tive conhecimento dos respiradores no fim de março, eu não aprovei a compra, pois não eram de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), e disse que isso não me interessava. O interesse era aumentar os leitos do [hospital] Delphina [Aziz]. Tivemos uma reunião em Brasília no fim de março com a Defesa Civil que alertou sobre a situação do País. A situação do coronavírus na cidade estava piorando. Tivemos que providenciar ventiladores. Não conheço a especificação do modelo pelo número, por isso não sei sobre a mudança. Nossa intenção era adquirir os respiradores para leitos clínicos e depois trocar nas unidades básicas de saúde por respiradores de Unidades de Terapia Intensiva, por isso o processo da compra avançou e quem fez a solicitação foi a área técnica, chefiada pela [ex-secretária executiva da Susam] Dayana Mejia”, completou Tobias.
O ex-secretário falou que Dayana Mejia insistia na compra dos respiradores que não eram para UTIS, e que eles iam ser remanejados para outras unidades para uso em leitos clínicos. “Todos os processos são da área técnica e tenho que apoiar nessa área. Eu não tive acesso ao modelo dos respiradores, não entendo sobre os números que identificam o produto. Não posso responder por isso. Eu tenho limitações, estava tratando com muita coisa. Não estou me eximindo”, relatou.
Rodrigo Tobias citou que a secretária de Comunicação do governo, Daniela Assayag, chefiou, como representante do governador, uma reunião que teve na Susam para tratar da aquisição dos respiradores. A reunião em questão era para tratar sobre a proposta da empresa Sonoar, que fez a proposta com o preço menor. “A reunião tinha umas 20 pessoas e a secretária Daniela Assayag estava como representante do governo, e sabia da proposta de R$ 88 mil da Sonoar, que era a de menor valor, mas exigiam o pagamento por transferência bancária em um dia”, disse o ex-secretário.
A CPI foi paralisada às 12h20 e deve retornar na tarde desta segunda (29) com o restante do depoimento de Rodrigo Tobias. Após a conclusão, será ouvido o ex-secretário executivo adjunto do Fundo Estadual de Saúde (FES), Perseverando da Trindade Garcia Filho.